A zona tornou-se então progressivamente mais apetecível. Dom João V aí adquiriu um conjunto de quintas e propriedades, sendo de admitir que tivesse em mente a ideia de vir a desenvolver qualquer projecto de monta. Carvalho da Costa, na sua Corografia Portuguesa, relata-nos que “adiante da Junqueira fica logo o lugar de Belém, taõ salutifero & aprazível, q dos naturaes & estrangeyros he appetecido para habitação; & os que por falta de commodidade o naõ podem habitar, estaõ em continuo concurso frequentando aquelle sitio. Nelle tem casas, quintas nobres, Fidalgos das primeyras qualidades do Reyno; & se o terreno permittira mais Palácios, ou edifícios, viera a ser a cidade continuada até aquelle sitio”.
No terramoto do primeiro de Novembro de 1755, Belém e Ajuda foram das zonas menos afectadas pela catástrofe. Tal circunstância concorreu para que muita gente para ali se dirigisse e se instalasse em numerosas barracas que foram sendo edificadas nos diversos baldios que então existiam. O próprio rei D. José e a corte fixaram-se numas barracas situadas numa das quintas régias, próximo do local onde mais tarde se ergueu o palácio da Ajuda. A permanência do monarca e do seu ministro – o futuro marquês de Pombal, entretanto nomeado ministro e secretário de Estado dos negócios do reino – fizeram do eixo Belém-Ajuda, ao longo do terceiro quartel de setecentos, o centro do funcionalismo e da burocracia, atraindo simultaneamente para a zona o comércio e os artífices. A presença militar foi outra realidade, com a instalação que entretanto se verificou, na calçada da Ajuda, dos quartéis do regimento de infantaria do conde de Lippe e do regimento de cavalaria de Mecklemburgo. Estava, assim, consolidada a definitiva integração daquela zona da cidade de Lisboa.
Em 1770, foi formalmente criada a freguesia de São Pedro de Alcântara, abrangendo um território a poente da ribeira, desanexando da freguesia da Ajuda. Também no reinado de D. José, foi oficialmente instituído o bairro – judicial e administrativo – de Belém, que abrangia toda a freguesia da Ajuda, parte das de Alcantra e Santa Isabel, e ainda, no termo da cidade, as freguesias de Benfica, Belas, Barcarena e Carnaxide.
Os derradeiros anos do século XVIII e os primeiros decénios do XIX trouxeram à zona de Belém-Ajuda diversas contrariedades, acabariam por afastar dali o centro político do país. Em 1794, deu-se o grande incêndio na real barraca da Ajuda, obrigando a família real a abandonar o local e a instalar-se, sobretudo, no palácio de Queluz. Mesmo o início da construção do palácio da Ajuda, logo no ano seguinte, não impediu esse afastamento, pois a falta de verbas impedia a conclusão do novo paço e as invasões francesas, no dealbar do oitocentos, acabariam por determinar a transferência da família real e da corte para o Rio de Janeiro, de onde só regressariam em 1821, para se instalarem, sucessivamente, nos passos das Necessidades e da Bemposta.